O chuvisco da manhã
Percebi num jogo de sorte
Sou dos que nunca acordam cedo
Porém essa noite fugi do porte
Amortecendo com ansiolítico
Ignorei o morcego, não virei vampiro
Fugi de comportamento proibido
Percebi que os dias são de qualidade
Com frutas, pães, bolo e café
Fui a uma praia tranquila
No ritmo da velocidade, a pé
Atitude, prova de fé
Usei a escrita livre
Como prática de libertação
Elemento com poder de curar
Contornei um furacão
Mergulhei no fundo do mar
Misturei, areia, céu, sol e água,
Esforço-me pra não afogar
Delineada a segurança
O arquejo da política de milícia
Tiros, são alvo apenas os pretos dessa dança
Lembro que sou criatura de política social
Uso o conhecimento adquirido,
Para raquear a elite federal
Navego nas camadas sociais que observo
Metodologia acadêmica da antropologia
Suspeito ser alvo do recorte de massa
Mas confio na magia
Minha ânsia não interrompe
Adrenalina hormônio ousado
Brechas de um sistema defasado
Excitante o conhecimento acessado
A questão é a profundeza do mergulho imaginado
As bolhas impermeáveis se perfuram
Sei por que não podem perceber
Infiltrado como agente russo
Acesso sem ninguém no entardecer
Descobri ideias e vislumbrei lugares
Descrevo-os com escrita de tucano
Não erro a hipótese do plano
Brasileiro de nascença na caatinga
Aguardo o findar sem dano
Sou moleque quase homem, ou homem moleque
Descendente da ignorância
Do machismo interiorano
Nordestino, pernambucano,
Que cresceu mutilado sem plano
De comunidade que comem,
Matam o sonho e consomem
Como num ritual antropofágico
Marcado pela ausência de oportunidade,
Um náufrago.
Contudo disruptivo e com sagacidade
Transformou história ancestral de maldade
Para movimentar-se na sociedade!


